O ANTI REI DO FUTEBOL - BAIACO O VOLANTE DO BAHIA QUE MARCOU PELÉ
O antirrei do futebol
O que as suas mãos [ou pés] tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força. Eclesiastes 9:10
Em 1969, com 999 gols no placar, Pele, rei do futebol, o maior jogador do mundo, chegou ao estádio do Bahia, a Fonte Nova, para registrar seu milésimo tento, num jogo válido pelo campeonato nacional. Ele, porém, não contava com um marcador implacável chamado Edvaldo, mais conhecido como "Baiaco", apelido inspirado no peixe baiacu. A imprensa e o estádio inteiro estavam lá para presenciar e celebrar o show do atleta do século, mas se esqueceram de avisar Baiaco.
Edvaldo dos Santos nasceu em São Francisco do Conde (BA), em 7 de julho de 1949, onde ganhou estátua e virou nome de ginásio. Homem de pouca ou nenhuma leitura, que evitava entrevistas e tropeçava nas palavras, Baiaco tinha medo do mundo. A exposição midiática era seu terror. Sempre jogou pelo Bahia, com exceção de um curto período no fim da carreira, quando atuou pelo Leônico, time de Salvador.
Baiaco, que tinha técnica limitada, não sabia fazer gols. Em toda a carreira, marcou apenas seis, sendo um deles na noite histórica que deveria se tornar a gloriosa data do gol mil do rei do futebol. Porém, ele era um "operário" esforçado, que jogava com grande determinação e exibia fôlego de gato. Conhecendo bem os atalhos do campo e jogando seu futebol simples, tornou-se o maior volante da história do Bahia e "ídolo" da torcida tricolor. Em dez anos como jogador titular do Bahia, ganhou dez títulos. Numa entrevista, Pele disse que Baiaco foi um de seus melhores marcadores.
A história de Baiaco nos ensina que nem todos têm o talento para ser reis do futebol. Alguns nasceram para deter os reis do futebol. O jogo da vida, afinal, não é disputado somente por atacantes, mas igualmente por zagueiros. A sofisticação e a celebridade têm seu palco, mas a simplicidade e o anonimato também merecem um espaço. E, em algumas noites irônicas, a nobreza pode até mesmo ter que se curvar diante dos plebeus.
Na vida, o mais importante não é a capacidade que possuímos, mas o que fazemos com as oportunidades que recebemos. Se nos esforçarmos, fazendo o melhor em campo, poderemos vencer as limitações e conquistar troféus importantes. A vitória nem sempre é dos melhores, mas dos esforçados. Todo trabalho árduo produz bom resultado. Se o talento consegue uma façanha que ninguém consegue, o esforço produz um feito em que ninguém acredita.
Caso você não possa ser Pele, seja um Baiaco. Faça o melhor que lhe vier às mãos, ou aos pés. Assim, pelo menos por uma noite, você poderá se tornar o rei da partida - ou da vida.
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